quarta-feira, 27 de maio de 2009

CRISE 2008

ENTENDA A CRISE

Paul adquiriu um apartamento no comecinho dos anos 90, por US$ 300.000 financiado em 360 meses (30 anos). Em 2006, esse mesmo apartamento do Paul passou a valer 1,1 milhão de dólares. Daí, um outro banco perguntou pro nosso amigo Paul se ele não queria uma graninha emprestada, algo como uns 800 mil dólares, dando seu apartamento como garantia do pagamento. Sabendo da valorização de sua humilde casa, ele topou o empréstimo, fez nova hipoteca e pegou os 800 mil.
Com esses mesmos 800.000 dólares, o Paul, percebendo que os imóveis não paravam de valorizar, comprou três (3) casas na planta dando como entrada 400.000 dólares. E essa diferença de 400 mil dólares que o amigo Paul recebeu do banco ele a comprometeu: comprou um carrinho novo (alemão) pra ele, deu um outro veículo (japonês) para cada filho e com o resto do dinheiro comprou uma big tv de plasma de 63 polegadas, 43 laptops, 1634 cuecas e 293 meias. Tudo financiado, obviamente. Tudo a crédito. A esposa do Paul, sentindo-se rica e poderosa, a fim de aparecer para as amigas, sentou o dedo (a mão inteira) no cartão de crédito do maridão.
Eis que em agosto de 2007, começaram a correr alguns boatos nos jornais que os preços dos imóveis estavam caindo. Muito. Os imóveis que o Paul tinha dado entrada, em construção, caíram vertiginosamente de preço e não tinham mais liquidez nenhuma…


A ideia parecia ótima: refinanciar a própria casa, usar o dinheiro para comprar outras casinhas e revender com lucro. Bem fácil. Parecia fácil. Só que tooooodooooo mundo teve a mesma ideia e ”at the same time”. As taxas que o Paul pagava não pararam de subir (taxas pós fixadas) e o Paul percebeu que seu grande investimento no mercado imobiliário se transformara num grande desastre, numa tremenda bobagem que custaria grandes desgastes.
Milhões de norte-americanos tiveram a mesma ideia do Paul. Tinha casa pra vender como nunca.
Paul foi segurando como podia as prestações da sua casa refinanciada, as das três casas que ele comprou, tal como seus milhões de compatriotas, para revender, mais as prestações dos carros dos filhos, dele, as prestações das meias e cuecas, dos notebooks, da tv de plasma e do cartão de crédito que estava em posse da poderosa da vizinhança.
O que estava ruim foi piorando: as casas que o Paul comprou para revender ficaram prontinhas e ele tinha que pagar ainda uma grande parcela. Só que neste momento Paul acreditava que já teria revendido as 3 casas há muito tempo e não teria problemas em pagar tudo. Mas… não havia compradores. Ou os que havia só pagariam um preço muito muito MUITO menor que o Paul havia pago. Paul se fudeu ferrou. Começou a dar calote nos bancos das hipotecas da casa que ele morava e também das 3 casas que ele havia comprado como investimento. Os bancos, coitados, ficaram sem receber de milhões de especuladores iguais a Paul.
Paul optou pela sobrevivência da família, que já estava quase se desfazendo (imagine a reação deles quando disse que ia entregar os carros) e tentou renegociar com os bancos que não quiseram nenhum acordo. Paul, nosso pobre rapaz, entregou aos bancos as 3 casas que havia comprado como investimento e perdeu tudo que tinha investido. Paul faliu, quebrou. Ele e sua família pararam de consumir pra poder não entrar mais no poço. Sua filha começou a trabalhar no Mc Donald’s, que cada vez ficava mais vazio.
Milhões de Pauls americanos deixaram de pagar aos bancos os empréstimos que haviam feito baseado nos preços dos imóveis. Esses bancos haviam transformado os muitos empréstimos de milhões de Pauls em títulos negociáveis. Os títulos passaram a ser negociados com valor de face. Com a inadimplência dos Pauls, esses títulos começaram a virar pó. Valer pó.
Bilhões e muitos bilhões em títulos nada mais valiam, e esses títulos estavam espalhados por todo o mercado, principalmente nos bancos dos EUA, mas também em bancos europeus, asiáticos.
As casas dos Pauls eram as garantias dos empréstimos, mas esses empréstimos foram feitos baseados em um determinado preço de mercado desse imóvel… Preço que despencou. Um empréstimo foi feito baseado em um imóvel que havia sido avaliado em 500 mil dólares e de repente passou a valer 300 mil dólares - e mesmo pelos US$ 300.000 não havia compradores!!
Os preços dos imóveis americanos eram como uma bolha, um ciclo que não mais se sustentava, especulação pura. A inadimplência atingiu fortemente os bancos norte-americanos que perderam centenas de bilhões de dólares. A farra do crédito fácil ACABOU.
O ciclo vicioso se formou: a inadimplência dos milhões de Pauls forçou os bancos a pararem de emprestar por medo de não receber. Os Pauls pararam de consumir: não tinham crédito em seus cartões. Mesmo quem não devia dinheiro não conseguia mais crédito nos bancos. Quem tinha crédito não queria dinheiro emprestado devido às altas taxas.
O medo de perder o emprego aumentou e a economia travou. A recessão é sentimento, é medo. Mesmo quem pode, pára de consumir. A crise americana veio forte. A crise financeira é crise mundial.
O FED trabalhava. O mercado ficava atento e as famílias esperançosas. Até que o pesadelo para uma economia aconteceu: a crise bancária, com correntistas correndo para sacar suas economias, boataria generalizada, pânico. Um dos grandes bancos da América, o Bear Stearns, amanheceu, na segunda feira , quebrado, insolvente.
No domingo, o FED, de forma inédita, fez um empréstimo ao Bear, apoiado pelo JP Morgan Chase, para que o banco não quebrasse. Depois disso o Bear foi vendido para o JP Morgan por 2 dólares por ação. Há um ano elas valiam 160 dólares. A bola da vez seria o Lehman Brothers, um bancão.
“O que começou com o Paul hoje afeta o mundo inteiro. É a crise mundial 2008.” No dia 15 de Setembro/2008, o Lehman Brothers pediu falência, desempregando mais de 26 mil pessoas e provocando uma queda de mais de 500 (quinhentos) pontos no Indice Dow Jones, que mede o valor ponderado das ações das trinta maiores empresas negociadas na Bolsa de Valores de New York - a maior queda em um único dia, desde a quebra de 1929 crise de 1929 …

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